A regra do imposto de renda para o produtor rural que tem a atividade rural em seu CPF é diferente de uma empresa PJ.
A primeira grande diferença está no modelo de apuração, que é através do caixa, e não por competência, como na maioria das PJs.
Assim, o produtor tem algumas possibilidades de administrar o resultado anual, ou seja, com alguns ajustes no final do ano pode.
Porém, as oportunidades deste modelo tributário nem sempre são aproveitadas por todos os produtores rurais, pois é necessário entendimento do momento do produtor e assim, posso dizer que temos dois tipos de produtores:
1. Produtor Despreocupado
Todo ano ele só pensa no IR em fevereiro ou março, quando o contador pede para levar as notas, comprovantes, extratos bancários, etc.
Ele sabe que se tiver muito lucro e precisar pagar IR, o contador "dá um jeito" e está tudo certo, vida que segue.
Porém, nos últimos anos ele já percebeu que a rigidez fiscal está maior e, em alguns casos, teve que pagar um bom montante para o governo.
2. Produtor Atento
Esse produtor sabe que precisa estar com as informações na mão já em outubro para conseguir tomar decisões estratégicas que possibilitem pagar menos imposto sem descassar o caixa.
Dentro deste "tipo" de produtores, temos duas divisões.
1. O produtor que já sabe que vai pagar muito IR
Assim, ele precisa estar atento para planejar vendas e pagamentos e executar estratégias para diminuir o valor a pagar. Ele tem basicamente 3 opções, que podem ser utilizadas isoladamente ou de forma integrada:
Comprar um equipamento e depreciar 100% - para isso, precisa de caixa, por outro lado, pode ter um "desconto" de até 27% no bem adquirido, pois evita o pagamento do IR.
Pagar de forma antecipada seus insumos - essa é uma ótima opção pensando que antecipações, com a atual taxa Selic, podem render ótimos descontos financeiros no preço, ainda mais no final do ano, período que normalmente as empresas precisam de caixa, além de também conseguir um "desconto" de até 27% referente ao não pagamento do IR. Vejam que aqui o ganho pode ser muito expressivo. Sempre considerando o risco da operação, e o custo de oportunidade da negociação.
Pagar o Imposto de Renda - dependendo da situação de caixa e com o custo atual do dinheiro, pode valer a pena pagar normalmente o IR, que pode ser parcelado em até 8 vezes.
Outro ponto importante: nem sempre o produtor tem disponibilidade de recursos em caixa no final do ano. Assim, para não pagar IR, esses produtores podem lançar mão de financiamentos para conseguir executar as possibilidades que sinalizei acima.
2. Produtor que sabe que terá prejuízo
Quando o produtor sabe que vai ter prejuízo, ele geralmente relaxa, pois está tudo certo, já que não vai pagar IR naquele ano.
Porém, há algo importante: se ele teve prejuízo, ele precisa comprovar que tem financiamento (investimento, custeio, empréstimo etc.) que possibilite fechar esse prejuízo e ter pago todos os fornecedores.
Assim, mesmo no prejuízo ele precisa ficar alerta para não deixar nenhum furo fiscal para trás.
O grande ponto não é trazer o modelo tributário dos produtores rurais, mas sim ter clareza de 4 fatores que viabilizam boas estratégia tributárias:
Dados - O produtor precisa ter seus dados em tempo real, sem atrasos na compilação dos mesmos, para que possa tomar decisões certeiras, no momento correto.
Valor do dinheiro - Vejam que com uma taxa Selic de 15%, todo e qualquer movimento financeiro precisa ser calculado levando em consideração o custo do dinheiro no tempo.
Contadores especializados - Contadores que não exigem profissionalização de seus clientes e que não se especializaram para atender o produtor rural estão enfrentando dificuldades no mercado. Afinal, um contador pode ser excelente para empresas, porém, se não conhecer as particularidades do produtor, não conseguirá oferecer o suporte adequado. Consequentemente, muitos estão saindo do mercado, deixando um enorme passivo para trás.
Instituições Financeiras - Estas deixam muitas oportunidades na mesa por não entender a dinâmica por trás do IR e do negócio de um produtor. Poderiam ganhar muito dinheiro junto com o produtor, embasado na lógica tributária do campo.
Há muito tempo o agronegócio deixou de ser algo simples. Adicionamos à essa complexidade a taxa Selic de 15%, e os diferentes sistemas de cruzamento de dados e informações da Receita Federal.
Com a chegada da nova reforma tributária, que inicia em 2026, muitos novos desafios surgirão na parte fiscal e tributária dos produtores rurais, de modo que podemos ter certeza de que o agronegócio não permitirá amadores atuando.
E onde tudo começa a funcionar melhor?
Em uma boa gestão financeira embasada em dados concretos e reais, que possam gerar informações de qualidade, que vão possibilitar decisões assertivas.
Isso é fundamental para o sucesso dos produtores, assim como para os demais players do setor que acompanham os riscos do negócio do produtor.
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